07 janeiro 2008

um. dois. três.

forte. eu sempre fui uma pessoa forte. não forte fisicamente. não (isso nunca), mas psicologicamente.
as emoções muito espalhafatosas nunca foram para ele. achava ridículo tanta encenação e teatro.
ela dava importância a tudo o que ninguém mais via: nada: mundos dentro de uma só pessoa.
aguentei sempre o mais que podia, tudo o que não podia: dizer fazer...
o que era verdadeiro, não tinha pontos de exclamação, nem interrogações sucessivas e tão expressivas como nas novelas, em que as pessoas exageram tanto por tão pouco...
uma florzinha amarela no meio da relva verde, um coraçãozinho vermelho numa pessoa fria e distante...
comecei a guardar tudo dentro de mim. a pôr etiquetas nos pensamentos, nos sentimentos e a mandá-los para uma gaveta poeirenta trancada dentro da minha cabeça...
ele sabia disso melhor que ninguém. era mais fácil falar abertamente sobre o que sentia, sem rodeios: simplificar.
e ela conhecia a bondade nas pessoas: o amor: o medo: uma angustiazinha sem importância. e tentava resolver tudo.
é mais fácil não falar sobre as coisas. deixa-las passar. perdoar e passar. e nunca partilhar com outros.
por isso quando as coisas começavam a complicar, fugia. ao mínimo erro: fugir (ou desviar caminho?)
deixar as pessoas felizes. contentes. agradar: a todos.
eu acreditava que tudo o que não conseguiamos resolver, ninguém mais conseguia. (para passar, temos que passar sozinhos, os outros só atrapalham)
passou sempre a vida assim. talvez seja força do hábito. dos papás: a vida facilitada: tudo.
mas viver sempre no meio de tanta perfeição e felicidade cansava. era sempre tudo tão exacto. não havia margem para enganos.
(...)
eu continuo a não acreditar nas pessoas (muito). ter mais confiança em nós mesmos. a ter força: a força que nunca nos deram, mas que nasce não sei de onde.
ele ainda foge dos problemas. (um problema grande é as namoradas nunca lhe durarem muito... mas namoradas nunca foram um problema para ele. não se chateia. foge e vive: e sorri)
ela continua a ver as coisas que os outros não vêm (nunca viram e nunca verão). mas está cansada. e agora só quer é dormir.
[não a acordem por favor]

20 novembro 2007

espelhos

Acho. (sim. acho) que a minha alma ficou presa no espelho ao fundo do corredor.
E não digo isto só por dizer (não. longe disso).
digo-o porque sempre que passo pelo maldito espelho e sorrio, o que vejo não ri [quando passo pelo espelho e choro, o que vejo não chora. quando passo pelo espelho enraivecida, o que vejo não odeia.] vejo sempre o mesmo. o que vejo não chora. não sorri nem odeia. não ama. não mexe.
[não sente]
Sei que o problema não é do espelho. É de mim.
E é por isso que tenho tanta certeza que a minha alma fugiu e ficou presa num espelho que só mostra a realidade.

27 outubro 2007

demónios

os demónios dos meus sonhos vêem dançar na rua ao lusco-fusco. e não há nada mais assustador do que demónios contentes...

16 outubro 2007

um dia hei-de encontrar aquilo que me faz falta. [não sei o que é. mas tenho dentro aquela ânsia de saber. de procurar.]

porque isto é pouco. muito pouco para mim. viver assim. ficar aqui ou ali. em sítio nenhum. ou em todo o lado.
e é esquisito. não saber o que se quer. mas ter esta vontade cá dentro. esta fome.

surreal - disse-me ela. o telefonema mais surreal que ela tinha recebido. normal. eu achei-o normal. [o que se acha quando uma garrafa de vodka nos dorme nos braços e nos conforta o coração? e o telefone é a nossa única ligação a alguém?]

é isso sim. acho a normalidade uma porcaria. a rotina então pff. odeio-a. odeio-a tanto quanto se pode odiar qualquer coisa [ou talvez um pouco menos]
a banalidade. aquele desconforto. aquela dor que não vai embora. aquela falta de ar nos pulmões. [afoga-nos disseste tu?]
sim. afoga-nos. enlouquece-nos. mata-nos.
por isso tentamos encontrar um pouco de sossego nesta nossa vida hipócrita. fazemos isto. aquilo. fazemos o que nos mandam. o que não queremos. chega de viver assim.
quando é que vamos parar de fingir que vivemos [e imitamos os outros]e passamos a VIVER?! quando?

22 setembro 2007

anda só mais um bocadinho
[o mundo é pequenino e encontra-los num instante]
eras uma luz pequenina. loirinha. bonita.
rias todo o dia. toda a tarde. toda a noite.
gostavas de toda a gente. brincavas com toda a gente.
eras o meu telefone para o mundo. a minha conta astronómica no final do mês.
eras a minha luz.

esforça-te só mais um bocadinho
[vais acabar por alcançar o que queres]
eras a minha paz. a minha calma. a minha ligação à terra.
tinhas um tereré e levavas as cores do arco-íris ao pescoço.
gostavas da relva e das fadas e dos duendes mágicos.
e nunca acreditaste muito nos números.
eras muito expressiva e sentimental e tinhas um coração do tamanho do mundo.
eras a relva. as flores. as árvores.

corre só mais um bocadinho
[não te vais cansar muito]
eras o meu riso. contigo estava sempre a rir.
não te conseguias calar um bocadinho [só ao pé dos outros]
eras tímido [hoje um bocadinho menos]
gostavas de lutas e coisas assim. [eu não gostava, mas achava piada]
achava até piada quando dizias que compravas acções da playboy...
eras a felicidade. o circo. a criança.

aguenta só mais um bocadinho
[um ano nem é muito tempo]
eras alto. esguio. forte. a minha protecção.
tinhas um riso tímido. de bebé.
achavas piada a tudo também [principalmente àqueles dois]
gostavas de jogar à bola. aliás de qualquer desporto.
eras um doce, por baixo daquele ar the 'tough guy'
eras o meu apoio. o outro lado da conversa. a realidade. a terra.

sorri só mais um bocadinho.
[mesmo sem vontade]
eras linda, mas nunca acreditaste nisso.
gostavas de nadar [eras um peixinho dentro de água]
mas sempre foste insegura e emotiva, e talvez por isso tenhamos ficado amigas
[eu também sou]
rias com as nossas "danças" e apanhaste o 'bitch'.
gostavas de sair à noite, de dançar.
eras a minha lua. a minha noite. a minha solidão.

fala só mais um bocadinho.
[mas não penses muito]
eras o mais peculiar de todos. o mais cómico.
podias fazer grandes espectáculos que todos te iriam aplaudir.
nunca ninguém conseguia estar ao pé de ti mais de dois minutos sem desatar à gargalhada.
gostavas de pôr músicas nas aulas de matemática [principalmente ' a felicidade' e o 'frique-frique']
mas à primeira vista parecias o mais calminho de todos. um sossego.
eras a calma por detrás da tempestade. o calor. a paródia.

grita só mais um bocadinho
[mais alto. assim ninguém te ouve]
eras diferente. barba. cabelo comprido. eras tu.
sempre foste sincero. [até naquela vez em que me disseste que o meu cabelo estava uma merda]
gostavas de fazer filmes [como eu] e de cantar.
querias sempre ir a concertos e pular muito [nunca cheguei a ir a um contigo]
eras a música. a alegria. o dia.

calma, é só mais um bocadinho
[já falta tão pouco...]
eras tão pequenina, mas tão crescida ao mesmo tempo.
tinhas os olhos cor-do-mar em dias de tempestade e quando sorrias, eles sorriam.
gostavas de futsal e de correr [liberta não é?]
querias mexer com os computadores e não tarda serás uma futura engenheira.
eras a cor. a força.



mas presente não é passado. e vocês são, não eram. e para mim serão sempre.

20 setembro 2007

ignorância

Parte-me por dentro saber tanta coisa. saber que não fico onde quero. saber que estou onde não faço falta. saber que deixo tanto para trás. saber que estou a crescer e a mudar. saber que o tempo passa mas a saudade fica. saber que a distância, muitas vezes, é uma cabra. saber que sonhos por vezes não passam disso mesmo. saber que mais cedo ou mais tarde vou deixar de cantar na rua. de me deitar no banco do jardim a ver o rio. saber que vou ter responsabilidades a sério. que o mundo não é uma brincadeira. nem tão bonito como aparece nos filmes. saber que as pessoas nem sempre nos abraçam quando precisamos. saber que muito do que temos por certo é uma ilusão e a vida por vezes é uma autêntica merda. saber que, um dia, vou deixar definitivamente tudo o que conheço e passarei a não conhecer nada. saber que o amor não passa de uma quimera. de uma torre de babel fantasiada que não atinge o céu nunca. saber que não existe um yang para cada yin. saber que a chuva é mais frequente que o sol e que quando pensamos que o dia não pode ficar mais cinzento [surpresa] fica preto. saber que a saudade corrói desorienta e mata-nos mais depressa do que qualquer faca. saber que vou partir muitos pratos até acertar com o armário. saber que um dia acordo, olho para trás e não vejo nada do que imaginei aos 9 anos. saber que os espelhos roubam-nos a alma e a vida. saber que nada mais importa.
mas eu não quero saber nada disto. não por agora. não nos próximos 50 anos. nem na próxima vida. se é assim prefiro viver ignorante... sempre.

16 agosto 2007

era uma vez...

'era uma vez...'
(se eu leio isto mais uma vez chateio-me a sério
porque é que todas as histórias felizes começam assim?
e acabam com o 'e viveram felizes para sempre'?
que tédio. as coisas nunca são assim,
por isso para quê encher a cabeça das criancinhas com sonhos inúteis que mais tarde só as vão magoar?
chateia-me mesmo.
eu já fui [ou ainda sou] uma dessas criancinhas a acreditar na princesa aurora e no príncipe felipe
e nos castelos e nos sapatinhos de cristal e nos beijos encantados... nos dragões nas fadas boas e nas más...
mas já conheço a realidade.
tenho a percepção que 90% das histórias não têm um final feliz.
[ou nem sequer começam] nem sei o que mais me entristece.
e continuo a acreditar.)







quando tiver meninos(as) não lhes vou contar histórias da carochinha e de princesas vou contar-lhes como a avó e o avô conseguem estar casados ao fim de tantos anos e de terem passado por tanta coisa e ainda continuarem juntos. porque essas são as histórias que as crianças devem aprender.




sou apologista da verdade. senão chego ao fim a sonhar com uma carruagem à minha espera. pff